A procissão do fogaréu é uma celebração que teve início na idade média.
O objetivo dessa procissão era levar o fiel a meditar, a respeito daquela noite, em que, após a última ceia, os soldados romanos saíram em busca de Jesus para prendê-Lo.
Essa devoção nasceu da criatividade dos cristãos, que ao contemplar e meditar as últimas horas de Jesus, inseriram, no contexto da perseguição e da prisão, alguns personagens bíblicos que haviam experimentado em suas vidas um encontro pessoal com o Senhor.
Encontrar-se com Jesus é encontrar-se com a luz que ilumina o mais íntimo de cada um de nós. É esse encontro que habilitava os homens do passado e que habilita os homens de hoje, a darem testemunho do Mestre, diante dos perseguidores.
A celebração da procissão do fogaréu é própria para os dias da Semana Santa, pois considera Judas Iscariotes, o traidor, conduzindo sumos sacerdotes e os soldados ao encalço de Jesus.
Primeiro, Judas os leva ao local da última ceia, mas Ele não está mais ali, pensa, então, onde poderia estar, resolve ir à casa de Lázaro, Marta e Maria onde Jesus costumava se hospedar, mas lá também não O encontra.
Dali, os conduz a casa de Zaqueu, e, mais uma vez, não O encontra.
Chega à conclusão de que só poderia estar no Horto das Oliveiras e põe-se a caminho.
Durante o trajeto, encontra uma mulher da Samaria, aquela a quem Jesus havia dito: “eu tenho uma água que se dela você beber, nunca mais terá sede”, e, após esse diálogo, dirigem-se ao local onde finalmente encontram o Senhor.
Lá, Jesus o faz ser identificado com o beijo da traição.
É interessante observar como a procissão do fogaréu foi sendo moldada com o passar dos tempos. Uma devoção cristã não surge sem profundos motivos espirituais, a devoção encontra a sua razão de ser na fé de homens e mulheres que esperam em Deus.
Nos primeiros séculos da Igreja o sacramento da confissão só era administrado uma única vez na vida.
O penitente devia confessar-se publicamente e cumprir publicamente a sua penitencia. Com o passar dos anos a prática mudou.
A partir do século VII até chegar ao século XIII, o sacramento da confissão recebe várias adaptações, dentre elas a confissão passou a ser privada e administrada diversas vezes a uma única pessoa ao longo da vida.
A penitência deixou de ser pública e passou a ser reservada, como acontece até os dias de hoje. Os penitentes, que até então faziam tudo publicamente, agora o fazem de maneira privada.
Naquela época da idade média, os penitentes vestiam-se com uma túnica para publicamente demonstrar que eram penitentes, porém, a partir de agora não fazem mais com o rosto descoberto, mas assumem a prática privada da penitência e cobrem o rosto.
Junto a essa prática na baixa idade média, no século XII, a arte que predominava era a arte gótica, cuja a expressão na arquitetura se dava por meio de uso de elementos verticais, um dos grandes exemplos dessa arquitetura vertical era a forma usada na construção das catedrais que utilizavam elementos pontiagudos, que apontavam para céu, cuja a simbologia iria expressar que “o homem deve voltar-se para Deus”.
Um grande exemplo dessas obras é a Catedral de Notre Dame de Paris.
Com a fusão de todos esses elementos, a devoção Cristã deu origem à uma das mais belas procissões da Semana Santa: a procissão do fogaréu.
Quem são os farricocos na procissão do fogaréu?
Com o surgimento da procissão do fogaréu, vários personagens e aspectos merecem destaque, dentre eles, vale ressaltar a figura dos penitentes, que na procissão são chamados de farricocos, e a figura dos soldados.
Os cristãos logo intuíram: o que leva Jesus a morte é o pecado da humanidade, mas o que toma Jesus pela mão para levá-lo a cruz são os soldados.
Então, essas duas figuras, o farricoco e o soldado, personificam o pecado e a maldade, pois são eles, o pecado e a maldade, que perseguem e matam Jesus.
Essa procissão deve ser acompanhada em total silêncio, pois ela pedirá de cada um de nós atenção aos diálogos, meditação, contemplação e resposta do coração.
Enquanto os mestres da lei, soldados e os farricocos, acompanhados por Judas procuram Jesus para prendê-lo, os amigos de Jesus, Joana, Lázaro, Zaqueu, a samaritana, dão testemunho do que Ele fez em suas vidas.
Deus nos guarde e nos dê caminhar ao lado de Jesus.
Foto: Pascom pnsassuncao.org.br