A liturgia que nós celebramos no Sábado de Aleluia é, com toda a certeza, a mais bela de todas as liturgias que nós celebramos ao longo do ano.
Os antigos cristãos tinham o costume de celebrar cada eucaristia em forma de vigília. Foi exatamente por esse motivo que Santo Agostinho ao referir-se a vigília pascal, ele chamou essa vigília de “a mãe de todas as vigílias”.
O Sábado de Aleluia é chamado de Vigília Pascal, pois antecede o dia da Páscoa, o Domingo da Ressurreição de Jesus.
A Vigília Pascal é a maior e mais solene liturgia da Igreja, porque nela nós celebramos de forma específica, a ressurreição de nosso senhor Jesus Cristo.
Esse é o grande mistério, que o anjo, na liturgia do Sábado de Aleluia, disse as mulheres que foram ao túmulo: “Não vos assusteis! Vós procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou. Não está aqui. 7Vede o lugar onde o puseram. Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele irá à vossa frente, na Galileia. Lá vós o vereis, como ele mesmo tinha dito”. Marcos 16, 6-7
A liturgia da Vigília Pascal é uma das mais belas, senão a mais bela de tudo aquilo que nós celebramos no calendário litúrgico, porque nela nós celebramos o mistério central da nossa fé. Jesus Cristo, o filho de Deus que se encarnou e que foi semelhante a todos nós, menos no pecado, viveu, pregou, serviu, amou até o fim e morreu na cruz para nos salvar e ressuscitou ao terceiro dia.
Esse é o núcleo da nossa vida de fé cristã. A nossa vida de fé cristã tem vários outros elementos que se agregam a esse, mas isso é o que nós chamamos de Querigma. Querigma é exatamente o núcleo do anúncio da morte e da ressurreição de Jesus Cristo.
A Vigília Pascal ao proclamar a ressurreição de Jesus nos indica que essa proclamação diz respeito a Ele como primícias, mas também diz respeito a todo homem e a toda mulher que pela fé e pelo batismo, tomamos parte na obra de Jesus Cristo.
A obra da salvação, realizada por Deus, cujo o ponto mais alto, cujo cume, está exatamente na obra redentora de Jesus Cristo apareceu descrita em toda liturgia da palavra da celebração do Sábado de Aleluia.
A liturgia do Sábado de Aleluia é composta por 9 leituras, 7 leituras do antigo testamento, a epístola e mais o santo evangelho, além dos salmos que acompanham as suas leituras.
A liturgia do Sábado de Aleluia descreve aquilo que nós chamamos de história da salvação. Se você a observar com bastante atenção, da primeira leitura a última leitura ao evangelho, tudo que nós iremos ouvir será a história salvífica.
A liturgia da palavra do Sábado de Aleluia descreve de maneira gradual a obra amorosa de Deus, que vai desde a criação até a redenção do homem.
A primeira leitura dessa missa foi retirada do livro do Genesis e ela descortina para todos nós a história da salvação a partir do relato da obra da criação.
Deus que é amor em si mesmo, não se contenta em permanecer apenas em uma vida intradivina em sua eternidade. O Seu amor é difuso, se distribui, Deus necessita sair de si, ser fecundo, explodir, dar-se e fazer acontecer aquilo que não é Ele, isso é a Obra da Criação.
Deus não precisa do homem, mas Deus quis criar a sua obra, criou as plantas, os animais, o sol, a lua e, finalmente, criou o ser humano a sua imagem e semelhança.
Depois dessa primeira leitura, a liturgia da palavra se desdobra em outros textos bíblicos, que mostraram o amor incansável de Deus em busca de seus filhos e filhas.
Deus não se contenta em apenas criar o homem, Deus queria mais, Deus queria que o homem e a mulher fossem seus interlocutores.
Deus quer o homem e a mulher como amigos, então o que foi que Deus fez? Fez uma aliança conosco. Estabeleceu conosco um laço, mas não um laço frágil qualquer, Deus estabeleceu conosco um laço de amor, estabeleceu com a humanidade inteira um pacto de amor.
O povo de Israel foi o primeiro povo, o povo da primitiva aliança, e esse povo logo percebeu que a aliança de Deus tratava-se de um ato de amor. Então, o homem percebe que ele não foi somente criado, é mais ainda que isso, ele foi eleito, amado, querido infinitamente pelo amor de Deus. Esse Deus amoroso não cobra do homem pelas inúmeras infidelidades do homem.
Podemos ouvir nesta liturgia, Deus dizendo por meio dos profetas, tanto Isaías quanto Ezequiel: “Eu não levo em conta os seus pecados”, “Eu lhe dou um tempo para que você se converta”, “Eu lhe convido a voltar a mim”, então a fidelidade de Deus é mais forte que a nossa infidelidade.
O amor de Deus é muito mais do que a nossa imperfeição, do que o nosso pecado. Por amor, nós somos chamados a viver com Ele. Por maior que seja nosso pecado, Deus não revoga a sua aliança, Deus não volta atrás em seu amor. Quer uma prova disso? A encarnação de Jesus Cristo.
A liturgia da missa do Sábado de Aleluia conta a história da salvação e mesmo que o homem tenha se afastado de Deus, Ele disse “não desisto” e enviou o seu filho.
A história da encarnação de Jesus é a culminância desse processo de aproximação de Deus com a humanidade.
Encarnando-se, Jesus nos mostra que Deus deseja estar em comunhão conosco, porém, muitas vezes, somos nós, pecadores, que rompemos essa amizade com Deus, essa relação amorosa com Ele, somos nós que introduzimos distanciamentos por causa do nosso pecado, que criamos rupturas com Deus e, a semelhança de Adão, nos escondemos do Senhor, mesmo o Senhor vindo ao nosso encontro e nos chamando pelo nosso nome.
Jesus Cristo com a sua pregação, seus gestos e a sua vida, nos mostra que Deus ama a todos além das nossas limitações, dos nossos pecados, das nossas infidelidades. É através de Jesus que Deus faz uma nova aliança. A primeira aliança feita por Deus em Adão e Eva havia sido quebrada pelo pecado do homem, Deus refaz essa aliança na obra e na vida de Jesus Cristo.
É através de Jesus que Deus vai nos dizer que nos quer perto dEle, na sua casa, na sua aliança, na sua ceia, na sua comunhão com sua Pascoa, Jesus realiza uma nova criação e faz conosco uma nova e definitiva aliança.
A vida de Jesus foi apenas amor, uma vida de doação, de entrega, e essa vida de Jesus não morre. É isso que nós celebramos na liturgia do Sábado de Aleluia. É por isso que a liturgia da Igreja neste dia canta um dos mais belos e significativos hinos no início desta celebração pascal, o Exulta-te, o Precônio Pascal. Podemos tomar aqui duas estrofes para nossa reflexão:
Pois esta noite lava todo o crime
liberta o pecador dos seus grilhões
Dissipa o ódio e dobra os poderosos
enche de luz e paz os corações.
Ó noite de alegria verdadeira
que prostra o faraó, e ergue os hebreus,
Que une de novo o céu e a terra inteira
pondo na treva humana a luz de Deus.
Ó noite de alegria verdadeira,
que une de novo o céu e a terra inteira
É isso que a Igreja celebra hoje! Jesus se encarnou, viveu, sofreu, morreu, mas a morte não foi a última palavra sobre Ele, a última palavra é a vida e com Ele, todos nós, ressuscitaremos também, seguindo o seu caminho de amar a Deus e amar o nosso semelhante como a nós mesmos.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.